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  • Foto do escritorTiãozinho Safrater

O livro da autora Lilyan Teles que trouxe uma linda COROAÇÃO no CCA


Fotos: Sissy Eiko

No dia 26 de setembro as crianças do CCA receberam a visita da multi-artista Lilyan Teles que veio fazer uma palestra e apresentar seu livro Cabelindo a convite de Sissy Eiko, voluntária do CCA que conta: - Quando ela lançou o livro Cabelindo pensei: vou perguntar se ela não poderia fazer umas rodas de conversa com as crianças do Tiãozinho porque nesse ano estamos trabalhando o tema diversidade e nada mais representativo do que uma mulher negra, escritora, atriz, palhaça, integrante de uma banda infantil e professora de musicalidade na educação infantil falar sobre a sua experiência de vida com as crianças!


E assim Lilyan fez uma imersão no Tiãozinho apresentando Cabelindo, um livro sobre resistência e representatividade, cheio de beleza e ternura. A obra apresenta o encantamento de uma menina com as inúmeras possibilidades e descobertas que seu cabelo lhe proporciona: pode ser uma coroa, quando vai pra cima numa boa; visto de pertinho, ele é um bambolê bem pequenininho. Seus cachos revelam bem mais do que uma característica física: eles são a marca de sua origem e identidade. A poesia de Lilyan Teles, ilustrada por Rubem Filho, mostra a importância de termos uma visão positiva e respeitosa das diversidades étnico-raciais, de superarmos os preconceitos e entendermos que cada um tem seu jeito, e todo cabelo é bom e bonito.


A equipe do Tiãozinho News bateu um papo com Lilyan Teles sobre suas inspirações e como foi a experiência no Núcelo Tiãozinho.


TN: Quando você começou a flertar com a literatura?Lilyan: Eu escrevo desde a adolescência, na verdade até antes, sempre brinquei de inventar a literatura, desde a alfabetização era muito influenciada pela leitura e brincava de fazer meus próprios livros.


Eu fui uma criança dos anos 90 e trago lembranças de que o papel sulfite era muito caro. O meu pai ia no açogue e na ocasião faziam os embrulhos com um papel branco e ele trazia sempre a mais para que eu pudesse fazer meus livrinhos, eu inventava histórias e tenho até hoje alguns desses livrinhos como lembranças dessa época.


TN: Cabelindo é o seu primeiro livro publicado, o que te inspirou?


Lilyan: Cabelindo é meu primeiro livro e a minha inspiracão foi falar sobre os cabelos crespos e o preconceito. Toda a criança que tem cabelos crespos é vítima de racismo, seja na escola ou em outros lugares, eu vivi muito isso. A ideia veio no sentido de apontar os holofotes sobre os cabelos louvando a sua beleza, de mostrar o quanto ele é bonito e deve ser motivo de orgulho, além disso trazer um olhar exaltando o povo negro que veio da África, que foi escravizado e que não são escravos, são pessoas que foram separados de suas famílias, pessoas que tem ancestrais que forma reis e rainhas e que trazem uma cultura riquíssima.


A forma da poesia foi o lugar onde me senti a vontade para trabalhar temáticas que me movem e que me revoltam, pude trazer uma critica ao entorno da sociedade, fazer refletir sobre o feminismo e como pensa o feminismo negro, a maneira com que as mulheres se colocam no mundo e como o mundo as vê.

Foi por meio da poesia também que eu pude sucitar essa investigacão nas crianças para que elas tivessem cada vez mais orgulho de seus cabelos.


Eu demorei muito para ter orgulho do meu cabelo, que na verdade ele é uma potência, foi nesse lugar que surgiu o o grande estimulo da poesia do Cabelindo.



“Eu demorei mui to para ter orgulho do meu cabelo, que na verdade ele é uma potência, foi nesse lugar que surgiu o grande estimulo da poesia do Cabelindo.”

TN: Você fala que a maternidade também te ajudou no processo de criação não é mesmo?


Lilyan: Sim, a maternidade foi e é mais um potente ingrediente nesse processo criativo, mais do que nunca me traz a responsabildiade de fazer meu filho entender, todos os dias, as suas caracteristicas africanas, suas histórias e origens, vivemos em uma sociedade racista e saber se proteger é fundamental pois certamente ele vai estar exposto a isso.

Posso citar também algumas referências do que tenho lido voltado para o universo da criança, como Kiusam de Oliveira e Bell Hooks, muita gente que tem essa linguagem com a criança para que tenham contato com suas origens e se orgulharem delas.


TN: As ilustrações do livro são lindas, como foi a escolha do ilustrador Rubem Filho?


Lilyan: Ele foi indicação da minha editora. Não o conhecia antes disso, mas ele faz muitas ilustrações principalmente neste sentido de empoderamento de crianças negras. Ele é um homem negro e certamente foi a escolha perfeita, pois soube trazer a textura do cabelo crespo para o desenho de uma forma que somente os nossos saberiam fazer com tamanha sensibilidade. Outra questão foi o tratamento do ambiente onde vive a protagonista, Rubem pensou imediatamente em retratá-la andando cheia de orgulho em sua comunidade. Afinal, o maior número de pessoas negras estão nas periferias, e ele trouxe o cotidiano da menina negra neste contexto de um jeito repleto de afeto, as crianças se identificam prontamente com as situações que ele desenhou.


TN: Como foi a experiência no Núcleo Tiãozinho?


Lilyan: Passei um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Sem exageros.

Vi muitos pequenos como eu fui, com seus olhos brilhantes, atentos, desejando falar sobre nossa ancestralidade. Fortalecendo os saberes sobre nossa etnia, trocando experiências tão semelhantes, fazendo rima, partilhando música, criando laços, nos percebendo espelhos, reis e rainhas pretas. Desde o lançamento deste livro só posso agradecer pelo carinho que recebo toda semana, mensagens que aquecem meu coração de esperança.

Estas crianças do Tiaozinho ficarão sempre em minha memória, marcada pelas melhores palavras para improvisar os versos no nosso rap, dos cabelindos sabidos e cheios de sabedoria, entendendo o que é racismo por aqui.


Esse trabalho é sempre uma troca, as crianças estão muito atentas ao que acontece no mundo e o assunto dos cabelos é muito aderente. Estão muito latentes as questões do racismo pois vivenciamos situações assim o tempo todo, seja com músicos, jogadores de futebol, influenciadores digitais, entre outros, é preciso trazer a luz e nutrir cada vez mais essas curiosidade para que as crianças e jovens se munam de conhecimento para se protegerem.


Eles revelam um enorme interesse em saber mais, as crianças estão curiosas por historias de empoderamento, de pessoas que passaram essas situações e superaram com louvor, isso ajuda na estruturação de defesas e fortalecimento de identidade.


É indescritível o que se sente falando sobre negritude para uma média de 90% de crianças pretas. Faz todo sentido e permito dizer que alimenta ainda mais o espírito e a vontade de seguir em frente. Eles são potência pura.

Os tempos são difíceis, a gente está bem cansado de lutar, mas as crianças são nutrição (cabe o clichê: são o FUTURO) AFROFUTURISTAS, são a firmeza no propósito.

E assim, nestes encontros entendo...Sankofa e Ubuntu.


TN: Como tem sido o resultado dos trabalhos com o livro em campo?


Lilyan: Tem sido um retorno incrível, com pessoas de todas as idades que entram em contato comigo e se sentem gratas pelo livro, pelo empoderamento que ele traz, exaltando assuntos como os cabelos e tantos outros, há um respiro de alívio pois cada vez mais se fala sobre esse assunto.


O Livro Cabelindo tem sido usado por professores em sala de aula, tem um depoimento de uma escola que conta que uma menina negra usava o cabelinho preso, super tímida, e as professoras perceberam e começaram a fazer um trabalho usando o livro, e logo naquela semana ja preceberam a transformação, a menina disse a mãe que seu cabelo cresce para cima como um coroa. Nessa troca ainda surgem falas das criancas como: Eu sou rainha, nós não podemos baixar a cabeça pois senão a coroa cai, e isso é lindo de ouvir e vale para pessoas de todas as idades que sentem esse “coroamento” por meio da leitura de Cabelindo. O livro também tem sido usado por psicólogos e tem surtido transformações nas crianças despertando um novo olhar sobre o cabelo e a riqueza cultural que ele representa.



“Sem exageros, passei um dos momentos mais emocionantes da minha vida.”




TN: Podemos esperar mais livros por ai?


Lilyan: Sim, há projetos sobre temática de crianças que tem uma inteligência atípica como espectro autista e TDAH, existe um estudo com uma parceira especialista no assunto. Estamos em processo de pesquisa sobre esse e outros assuntos que cuidem das questões raciais e africanidades e o quanto isso impacta nas questões saúde mental dessas crianças que sofrem preconceito.


A experiência de ter uma artista como Lilyan Teles no Núcleo Tiãozinho foi incrívelmente rica, foram estimulados aspectos de autocuidado, autoaceitação e respeito as identidades diversas. Lilyan traz na bagagem de multi-artista ferramentas valiosas como professora, escritora, atriz, palhaça, musicista e cantora elevando o alcance de sua mensagem tão necessária. Após ouvir a sua palestra sobre o livro “Cabelindo”, foram realizadas rodas de conversas, onde se refletiu sobre as diferenças e o respeito que devemos ter referente a aparência e textura do cabelo de cada um, promovendo o respeito e socialização. Em seguida os participantes transportaram através de desenhos o que mais chamou a atenção na história apresentada.

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